A propósito da estreia do último filme de Jim Jarmusch, «Paterson», Pedro Mexia escreve no último número da revista E do Expresso:
«Os poemas de Paterson, que vamos vendo no ecrã, são despretensiosos, directos, como os mais despretensiosos e directos versos de Williams. Poemas minimais, discretos, timidamente inventivos, que são na verdade da autoria de um poeta não-ficcional, amigo de Jarmusch: Ron Padgett. Esses poemas obedecem a uma máxima de Williams, “no ideas but in things”, tese que constituía uma reacção à poesia» erudita e hermética de Eliot e Pound. O doutor Williams, talvez por ser médico, gostava de coisas concretas, de pessoas concretas, queria toda a invenção ancorada num presente verificável e gostava de fazer coincidir, como escreveu um seu estudioso, “os materiais que suscitam a poesia e a poesia que esses materiais suscitam”. É por isso que no “Paterson” de Jarmusch as coisas mostradas ou ouvidas, e os versos que sobre elas se escrevem, são trivialmente poéticas: caixas de fósforos, copos de cerveja, conversas sobre pugilistas e engates. Mas quando sugerem a Paterson que a sua cidade é poética, que a sua vida é poética, ele acha que não, que não são nada poéticas.» [1/7/2017]
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