«Mas, como
sucede sempre nas suas histórias, há de repente um momento de viragem. As
personagens chegam àquele ponto em que a vida começa a abrir caminho por entre
lanhos antigos que nunca fecharam nem se transformaram em cicatrizes. Não há
feridas saradas nas personagens de David Vann. Em Aquário, mãe e filha
descobrem quem é o velho e a partir daí o autor leva-as até ao limite do
abismo, ao mesmo tempo que nos vai contando, em jeito de relato catastrófico de
ressentimentos e de desesperos, como por vezes se tecem as complexas relações
de uma família, e como com o tempo tudo pode desmoronar. Muito à maneira de
Coetzee, também Vann vai traçando uma espécie de “itinerário moral”, temperado
com violência, desespero e vingança, o quase inevitável resultado de muitas das
relações humanas. (…)
Embora as personagens
sejam levadas até ao limite do suportável, Aquário acaba por ser, ao
contrário dos anteriores livros do autor, uma história redentora, e isto talvez
porque o cenário não as obriga a estar num sistema (sem escapatórias nem alívios)
de apenas violência e desespero. Elegantemente escrito e emocionalmente
intenso, este romance pode ser lido como uma parábola sobre a fragilidade do
mundo, a fragilidade das relações humanas, sobre a traição e a capacidade de
perdão, sobre os caminhos da redenção.» [José Riço Direitinho, Público,
ípsilon, 22/01/2016]
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