«Como se
percebe, Steiner preocupa-se sobretudo com a debilidade do pensamento, com a
sua incapacidade para estabelecer uma “grandeza” e uma “verdade”. Mas a
melancolia que o pensamento suscita pode não advir do próprio pensamento, das
suas limitações, enganos, dos seus acasos neurológicos; o “eu”; e o pensamento
do “eu”, é que é problemático, quando não odioso. “Le moi est haïssable”,
escreveu Blaise Pascal. Por isso, procuramos a “felicidade” fora do “eu”: a
felicidade é “o outro”, a comunidade, a dissolução química ou teológica do
“eu”. É frequente censurarem-me por ser introvertido, introspectivo,
ensimesmado, solipsista, como é frequente atribuírem a minha aparente tristeza
a uma tendência pensativa. Mas eu nunca tive um pensamento que fosse meu. A
tristeza do meu “pensamento” é tão-só a tristeza de observar com atenção o meu
“eu”, que é igual a qualquer outro “eu”: indecifrável, inescapável,
detestável.»
[Pedro
Mexia, E, Expresso, 22/01/2016]
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