No DN
de 18 de Janeiro, João Céu e Silva faz um sistemático trabalho sobre a edição
de várias obras de Joyce publicadas pela Relógio D’Água nos últimos dois anos. Entrevista
o editor da Relógio D’Água sobre a publicação de Ulisses e os diferentes
tradutores que se encarregaram da passagem das obras para o português.
Jorge Vaz de
Carvalho, tradutor de Ulisses: «é o autor da nova tradução de Ulisses,
uma tarefa que lhe demorou mais de dois anos e em muitos períodos trabalhando
dez horas por dia. “O tempo mais bem empregue que poderia desejar.” Após o
convite da Relógio D’Água, cumpriu-se o desejo de sempre traduzir Ulisses:
“É, para mim, com Em Busca do Tempo Perdido, de Proust, a mais
importante obra de ficção do século XX. Apesar de ser um texto a que regressava
regularmente, fazê-lo na qualidade de tradutor cria novas perspetivas para um
conhecimento aperfeiçoado.”»
Margarida
Periquito, «tradutora de Dublinenses, que iniciou há dois anos e em
simultâneo com os seus pares envolvidos neste projeto da Relógio D’Água, considera
que todos os autores e obras apresentam as suas dificuldades mas não encontrou
nestes contos de Joyce mais dificuldades do que em autores como Joseph Conrad,
Bram Stoker, Pirandello ou Leopardi. Acrescenta que é sempre importante
conhecer factos da vida de um autor, bem como outras obras suas, para melhor
interpretar o seu trabalho literário com vista à tradução.»
Paulo Faria,
tradutor de Retrato do Artista quando Jovem: “é uma torrente de
palavras, um objeto orgânico, desenfreado, em que coisas belas e feias, palavras
belas e feias, se entrelaçam na prosa em lugar de destaque. O autor, aliás,
esfrega-nos esta beleza e esta fealdade na cara de propósito, deliberadamente”.
Para o tradutor, James Joyce não é um autor sobrevalorizado, antes pelo contrário:
“É um escritor pouco lido por exigir ao leitor o mesmo que exigia aos seus
familiares, conterrâneos e contemporâneos: que o acompanhassem na sua odisseia
sem fazerem concessões.”»
José Miguel
Silva, tradutor de Cartas a Nora: “não precisávamos destas cartas para
saber que o sentimentalismo e a obscenidade conviviam muito familiarmente
dentro de James Joyce, que o autor transitava facilmente entre as altas esferas
da especulação intelectual e linguística e os baixios da pornografia. Para tal
basta ter lido algumas páginas de Ulisses.”
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