Esta é a
sexta edição do Livro do Desassossego
organizada por Teresa Sobral Cunha. Resulta da continuação do seu trabalho de
investigação iniciado há mais de trinta anos quando assinou com Jacinto do Prado
Coelho e Maria Aliete Galhoz a primeira publicação do Livro do Desassossego.
Esta nova
edição determinou, com sempre, regressos ao espólio, acertos nas transcrições e
na discursividade, bem como a perseverança autoral de um heterónimo e de um semi-heterónimo
que sucessivamente se responsabilizaram pela sua redacção: Vicente Guedes e
Bernardo Soares.
«Na prosa se
engloba toda a arte – em parte porque na palavra se contém todo o mundo, em
parte porque na palavra livre se contém toda a possibilidade de o dizer e
pensar. Na prosa damos tudo, por transposição: a cor e a forma, que a pintura
não pode dar senão directamente, em elas mesmas, sem dimensão íntima; o ritmo,
que a música não pode dar senão directamente, nele mesmo, sem corpo formal, nem
aquele segundo corpo que é a ideia; a estrutura, que o arquitecto tem que
formar de coisas duras, dadas, externas, e nós erguemos em ritmos, em
indecisões, em decursos e fluidezes; a realidade que o escultor tem que deixar
no mundo, sem aura nem transubstanciação; a poesia, enfim, em que o poeta, como
o iniciado em uma ordem oculta, é servo, ainda que voluntário, de um grau e de
um ritual.
Creio bem
que, em um mundo civilizado perfeito, não haveria outra arte que não a prosa.» [Do
Livro do Desassossego]
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