Um Jantar Muito Original e A Porta são dois contos escritos entre 1906
e 1907 por Fernando Pessoa, usando a língua inglesa e o heterónimo de Alexander
Search, por ele próprio definido como «um habitante do inferno». São contos
fantásticos, centrados na perversidade, no mistério e na loucura e em ambos
pode ver-se alguma influência de Poe. Um Jantar Muito Original teve uma
discreta divulgação em 1978. De A Porta, que permaneceu muito tempo
inédito, publica-se a parte decifrável. O trabalho de recolha e tradução dos
textos foi feito por Maria Leonor Machado de Sousa, conhecida investigadora da
obra de Pessoa e da literatura fantástica portuguesa.
Qualquer um dos contos tem um interesse próprio. Mas ambos, e
sobretudo A Porta, revelam aspectos importantes de Fernando Pessoa, que
reconheceu entre as suas «complicações mentais» «o medo da loucura, o qual, em
si, já é loucura».
Por outro lado, como o mostrou Yvette K. Centeno no artigo Fernando
Pessoa e o Ocultismo, os poemas escritos por Pessoa com o nome de Alexander
Search evidenciam que «a sua preocupação com o mundo do oculto não foi um
episódio casual do final da sua vida, mas qualquer coisa que, cedo enunciada, o
acompanharia sempre». É esse o caso de Soul-Symbols, onde diz que «tal
como numa visão aberta pelo ópio, o meu ser profundo tornou-se um mistério»; de
The Curtain, em que o mistério do ser se transforma em medo à loucura,
em horror; ou de The Circle, onde se relata o «humor cabalístico» do
poeta no momento em que desenha o círculo que devia ser mágico e se revela um
fracasso. É essa preocupação com o oculto, revelada nos poemas de Alexander
Search, que surge sob a forma de fantástico nos seus contos Um Jantar
Muito Original e A Porta.
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