«Ritual – Trecho
Aí está ele, o mar, a mais
ininteligível das existências não humanas. E aqui está a mulher, de pé na
praia, o mais ininteligível dos seres vivos. Como o ser humano fez um dia uma
pergunta sobre si mesmo, tornou-se o mais ininteligível dos seres vivos. Ela e o mar.
Só poderia haver um encontro de seus
mistérios se um se entregasse ao outro: a entrega de dois mundos incognoscíveis
feita com a confiança com que se entregariam duas compreensões.
Ela olha o mar, é o que pode fazer.
Ele só lhe é delimitado pela linha do horizonte, isto é, pela sua
incapacidade humana de ver a curvatura da terra.»
Por acordo
com a editora Relógio D’Água, o Ípsilon
vai publicar nove crónicas de Clarice Lispector, ou seja, uma por semana
durante a Exposição que lhe é dedicada na Fundação Calouste Gulbenkian. Os
textos são extraídos de A Descoberta do
Mundo.
No dia 26 de
Abril foi publicada a primeira, intitulada «Ritual – Trecho», de que acima se
reproduz um excerto.
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