«AMOR AO LUAR
Por vezes um homem ou uma mulher impõe a outro
o seu desespero. Chama‑se a isso
abrir o coração, ou, em alternativa, pôr a alma a nu, abri‑la —
o que quer dizer que nesse momento eles adquiriram almas —
Lá fora, uma tarde de Verão, um mundo inteiro
lançado aos pés da lua: formas prateadas
que podiam ser árvores ou edifícios, o jardim estreito
onde o gato se esconde, rolando o corpo na poeira,
a rosa, a coreópsis, e, no escuro, a cúpula dourada do capitólio
convertida numa amálgama de luar, contorno
sem detalhes, o mito, o arquétipo, a alma
repleta do fogo que é somente luar, captado
de outra fonte, brilhando
brevemente como brilha a lua: rocha ou não,
a lua é ainda essa coisa muito viva.» [p. 43 de A Íris Selvagem]
A Íris Selvagem (tradução de Ana Luísa Amaral) e outras obras de Louise Glück estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/louise-gluck/

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