19.1.25

De A Íris Selvagem, de Louise Glück

 «AMOR AO LUAR


Por vezes um homem ou uma mulher impõe a outro

o seu desespero. Chama‑se a isso

abrir o coração, ou, em alternativa, pôr a alma a nu, abri‑la —

o que quer dizer que nesse momento eles adquiriram almas —

Lá fora, uma tarde de Verão, um mundo inteiro

lançado aos pés da lua: formas prateadas

que podiam ser árvores ou edifícios, o jardim estreito

onde o gato se esconde, rolando o corpo na poeira,

a rosa, a coreópsis, e, no escuro, a cúpula dourada do capitólio

convertida numa amálgama de luar, contorno

sem detalhes, o mito, o arquétipo, a alma

repleta do fogo que é somente luar, captado

de outra fonte, brilhando

brevemente como brilha a lua: rocha ou não,

a lua é ainda essa coisa muito viva.» [p. 43 de A Íris Selvagem]


A Íris Selvagem (tradução de Ana Luísa Amaral) e outras obras de Louise Glück estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/louise-gluck/

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