Em Recordações da Casa dos Mortos, Dostoievski narra a sua experiência de cinco anos de prisão siberiana. Ele fora preso em Abril de 1849 e condenado à morte por actividades contra o governo como membro do Círculo Petrashevski. A 22 de Dezembro, colocado diante de um pelotão de fuzilamento, viu a ordem de execução comutada no último momento por trabalhos forçados na Sibéria.
Os acontecimentos são contados do ponto de vista de Aleksandr Petróvitch Goriántchikov, que assassinou a mulher no primeiro ano de casamento e vai descrevendo as conversas, experiências e sentimentos dos outros presos. Dostoievski fala da perda de liberdade, da solidão, do frio, dos trabalhos forçados e do carácter daqueles com quem conviveu, que, apesar de criminosos, descreve com humanidade, demonstrando admiração pela sua energia, engenhosidade e talento. Isto apesar dos seus ódios, astúcias, falta de escrúpulos e delações.
A vida na prisão é particularmente dura para Aleksandr Petróvitch, mais educado e sensível do que a maioria dos outros detidos. Dostoievski conclui que a existência de prisões como aquela, com as suas práticas administrativas e os cruéis castigos corporais, é um facto trágico tanto para os prisioneiros como para a Rússia. É como se previsse também o gulag dos tempos de Estaline, que viria a ser narrado, entre outros escritores, por Varlam Chalamov nos Contos de Kolimá.
Recordações da Casa dos Mortos (trad. António Pescada) e outras obras de Fiódor Dostoievski estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/fiodor-dostoievski/
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