26.3.24

Sobre Vidas Bissextas, de Amadeu Lopes Sabino

 


Entre a ficção do real e a realidade da ficção, este livro relata as peripécias terrenas de membros de uma confraria secreta que recusa aplicar à vida dos homens as regras astronómicas que corrigem a discrepância entre o ano de calendário e o tempo de translação da Terra em volta do Sol. São bissextos porque só aceitam a irregularidade da sucessão das eras.

Entre Aurélio de Lemos, melómano erudito e desertor contumaz, e Maria Sabina de Albuquerque, diseuse de poesia que cala uma paixão secreta pelo marido suicida de Cecília Meireles, não há convergências, mas há pontos de interseção.

Fernando Ribeiro de Mello, editor falido, tentado por visões dignas de Santo Antão, acusado por Natália Correia dos desastres das vendas da poetisa, dialoga no Além com Wilhelm Furtwängler, maestro admirável, genial, extravagante e talvez indigno porque regeu a Berliner Philharmoniker até à morte de Hitler.

Luís Miguel Nava, que, qual D. Sebastião, quis apossar-se de Marrocos, e o Mariano que procura em Madrid o futuro do passado partilham, sem o saber, a mesma busca da fusão da memória e do desejo capaz de proteger o homem da insignificância.

Teófilo, amador de arte, jornalista (acabaria monge budista), não entrevistou, como pretendia, Mark Rothko, mas conseguiu que Pierre Soulages descobrisse, numa noite passada em Monserrate nos braços de uma jovem camponesa de Sintra, o negro de Monserrate, o outre noir, o além-negro.


Vidas Bissextas e outras obras de Amadeu Lopes Sabino estão disponíveis em https://www.relogiodagua.pt/autor/amadeu-lopes-sabino/

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