«IV. MORTE PELA ÁGUA
Phlebas, o Fenício, morto há duas semanas,
Esqueceu o grito das gaivotas, e a ondulação das profundidades
E os lucros e as perdas.
Uma corrente submarina
Apanhou em sussurro os ossos dele. Ao subir e descer
Passou os estádios da sua idade e da sua juventude
Enquanto entrava no redemoinho.
Gentio ou Judeu
Oh tu que rodas o leme e olhas a barlavento,
Lembra‑te de Phlebas, que foi em tempos belo e alto como tu.»
[De A Terra Devastada, de T. S. Eliot, trad. Gualter Cunha]
«IV
Um longo trato com a poesia
tornou‑nos
viciados em metáforas.
É tentador pensar em lobos:
não são lobos.
Nada está mais distante dos carnívoros
e da sua inocência, nada está
mais distante do que eles da natureza.
Se nos matarem, não será por fome,
não será pelos poços, não será
porque o frio da montanha lhes levou
a protecção da última gordura.
Não será porque as células empurram
para a sobrevivência, não será
pela combustão da vida.
Eles matarão
somente porque existe um pensamento,
como um tumor,
naquilo que os constitui.
Um pensamento onde há
poucas palavras,
como que inteiramente
militar.»
[De Acidentes, de Hélia Correia]
Poemas Escolhidos de T. S. Eliot (tradução de João Almeida Flor, Gualter Cunha e Rui Knopfli), Acidentes, de Hélia Correia, e os outros livros da Relógio D’Água estão disponíveis em https://www.relogiodagua.pt
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