27.3.24

De Desmesura — Exercício com Medeia, de Hélia Correia

 


«Cidade grega de Corinto.

Uma cozinha. Melana, uma mulher que ainda não fez quarenta anos, morena, olha para a porta, como quem espera. Ouve-se um trovão. Percebe-se que o tempo está escuro no exterior. O lume aceso na chaminé é um pequeno foco de claridade.

Entra uma jovem de cabelo ruivo, Éritra, com um alguidar cheio de farinha. Ao longo da cena, vão preparando a massa para o pão. Há interrupções várias neste trabalho, o que faz com que leve muito mais tempo do que o habitual.

Éritra vem sacudindo-se da chuva e despeja a farinha sobre a mesa.

MELANA — A chover, outra vez? (Vai confirmar, abrindo a porta) A chover, sempre.

ÉRITRA — Não digas nada.

MELANA — Eu digo alguma coisa?

ÉRITRA — Pensaste.

MELANA — Ninguém manda no que pensa.

ÉRITRA (segredando) — Ela consegue ouvir-nos a pensar…»


«Desmesura — Exercício com Medeia» e outras obras de Hélia Correia estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/helia-correia/

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