«Durante muito tempo fui para a cama cedo. Por vezes, mal apagava a vela, os olhos fechavam-se-me tão depressa que não tinha tempo de pensar: “Vou adormecer.” E, meia hora depois, era acordado pela ideia de que era tempo de conciliar o sono; queria poisar o volume que julgava ter nas mãos e soprar a chama de luz; dormira, e não parara de reflectir sobre o que acabara de ler, mas tais reflexões haviam tomado um aspecto um tanto especial; parecia-me que era de mim mesmo que a obra falava…» [Primeira frase de Em Busca do Tempo Perdido, volume I, tradução de Pedro Tamen]
Em Busca do Tempo Perdido é um livro que tem, nas palavras do seu autor, «a forma do tempo».
E, na verdade, o que distingue este romance é o reforço da sua concepção da memória como recriadora do passado. É isso que permite o misterioso encanto da narrativa e o tom de dolorosa nostalgia em que o passado envolve o presente.
Mas o recurso à memória involuntária faz com que Proust nunca transmita uma realidade de que a sua imaginação esteja ausente.
Ainda muito jovem, conhecia de cor todos os pormenores da vida das damas que tinham frequentado os salões de Paris desde o século xvii, como Madame La Sablière ou Madame de Staël.
E foi precisamente à sensação da decepção em relação ao imaginado que ele sentiu nos salões parisienses que foi buscar muitas das personagens que povoam o seu universo ficcional, onde o amor e o ciúme ocupam o lugar central.
Em Busca do Tempo Perdido (trad. Pedro Tamen) e Sobre a Leitura (trad. Miguel Serras Pereira) estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/marcel-proust/
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