“As Afinidades Electivas” é um romance que prefigura, logo que chega ao espaço público do seu tempo, em 1810, o romance do futuro, de Flaubert e Stendhal a Fontane e Thomas Mann. Internamente, a prefiguração simbólica será também um dos seus mais conseguidos recursos estruturais, numa constelação em que os destinos cruzados das personagens revelam um interesse novo pelos meandros mais profundos da alma humana e pelos mecanismos da paixão, criando efeitos verdadeiramente surpreendentes. A genialidade deste romance parece estar nessa desconcertante inversão permanente do(s) sentido(s), na quebra constante de todas as expectativas do leitor e do género romanesco, acumulando e cultivando, capítulo a capítulo, contradições e ironias, num processo comunicativo novo. Pode bem dizer-se que o fio condutor de “As Afinidades Electivas” é uma constelação melancólica que a cada página nos faz deparar com motivos da disposição da alma saturnina. Na oposição entre a presença de forças míticas obscuras e o mundo, mais maravilhoso e frívolo que mítico, da féerie do canto do cisne da sociedade aristocrática viu Walter Benjamin a chave deste romance de Goethe.
As Afinidades Electivas (trad. Maria Assunção Pinto Correia) e outras obras de Goethe estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/johann-w-goethe/
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