26.2.22

Sobre Os Incuráveis, de Agustina Bessa-Luís

 



«Quando o Alberto [Vaz da Silva] me falou de “Os Incuráveis”, demorou‑se também num minuto pungente, num instante agudíssimo e terrível. Era aquela despedida no tombadilho dum barco, quando Petronila, «implacável mãe», estava grávida e regressou sozinha para o continente. O véu dela era cinzento, o marido ergueu‑o “com a mão que tremia” e beijou‑a “de levezinho como se beija um morto, como quem diz adeus até ao fim do mundo». Em “Os Incuráveis”, esse episódio é narrado em discurso directo por Mariano, depois da morte da Petronila, numa poltrona de couro. O que citei na terceira pessoa, o que me foi citado na terceira pessoa, era a longa fala, ou solilóquio, do filho para a velha criada. E essas duas páginas, que começavam: “Lea, corta‑me uma madeixa dos seus cabelos, e tira‑lhe do dedo a aliança… Há uma bolsa de cetim branco que tem dentro um ramo de laranjeira…” E acabava com: “[…] mas em nada disso está afinal o amor, que é a graça de estar presente e simultaneamente extinto na afirmação de todas as coisas e de todos os outros”. Essas duas páginas, digo‑vos eu, são as mais belas que já li em língua portuguesa.» [Do Prefácio de João Bénard da Costa]


Os Incuráveis, editado pela Relógio D’Água em 2020, e outras obras deAgustina Bessa-Luís estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/agustina-bessa-luis/

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