26.2.22

Sobre Notre-Dame de Paris, de Victor Hugo

 



«Lá estava ele, sério, imóvel, absorto, num olhar e num pensamento. Paris inteira jazia aos seus pés, com as mil flechas dos seus edifícios e o seu horizonte circular de suaves colinas, com o rio a serpentear sob as pontes e o povo a ondular nas ruas, com a nuvem dos seus fumos e a montuosa cadeia dos telhados a comprimirem Notre-Dame nas suas malhas cerradas. Mas de toda esta cidade, o arcediago apenas fixava um ponto concreto do pavimento: a Place du Parvis; e de toda aquela multidão, apenas uma figura: a cigana.

Seria difícil definir de que natureza era aquele olhar e de onde provinha a chama que dele brotava. Era um olhar fixo, mas repleto de perturbação e de tumulto. E, pela imobilidade profunda de todo o seu corpo, apenas agitado de onde em onde por um tremor automático como uma árvore sacudida pelo vento, pela tensão dos cotovelos, mais marmóreos do que a balaustrada em que se apoiavam, ao ver-se o sorriso petrificado que lhe contraía o rosto, parecia que em Claude Frollo só estavam vivos os olhos.»


Notre-Dame de Paris e Os Miseráveis (trad. José Cláudio e Júlia Ferreira) de Victor Hugo estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/victor-hugo/

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