25.11.21

De Últimos Poemas de Amor, de Paul Éluard




«ONDE A MULHER É SECRETA, O HOMEM É INÚTIL


A indiferença radicalmente excluída

Tudo se jogava

Em torno do ventre louco e das palavras sem nexo

De uma mulher feita para si mesma

E mais bruma do que real


Tinha um encanto a mais

Do que essa de quem nascera

Pleno de virtualidades


Acolhia tantos prodígios

Todos os mistérios

Na luz aberta do atónito


Sob a sua imensa cabeleira

Debaixo das suas pálpebras descidas

Numa voz abafada entremeada de risos

Ela e seus lábios contavam

A vida

De outros lábios semelhantes aos seus

Procurando entre eles o seu prazer

Como sementes ao vento


A vida também

De homens tão pouco agarrados a ela

De mulheres com mágoas esquisitas

Que se pintam para se apagar


E ninguém compreendia sobre que fundo de delícias e de certezas

A memória vindoura a memória desconhecida

Faria melhor do que a esperança

Para sempre implicada no vulgar no habitual.» [pp.30-31]


Últimos Poemas de Amor, de Paul Éluard (tradução e prefácio de Maria Gabriela Llansol), está disponível em https://relogiodagua.pt/produto/ultimos-poemas-de-amor/ 

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