«Mas resta uma pergunta final que gostaríamos de fazer a este grande mestre da arte da vida se pudéssemos fazê‑lo levantar os olhos da sua absorvente ocupação. Nestes extraordinários volumes de depoimentos curtos e entrecortados, longos e eruditos, lógicos e contraditórios, ouvimos o próprio pulsar e o próprio ritmo da alma, a bater dia após dia, ano após ano, através de um véu que, à medida que o tempo passa, se vai tornando mais fino até ser quase transparente. Aqui está alguém que teve sucesso na arriscada aventura de viver; que serviu o seu país e viveu retirado; que foi dono de terras, marido, pai; que recebeu reis em sua casa, amou mulheres e passou horas sozinho a ler livros antigos. Através da permanente experimentação e da observação dos detalhes mais subtis, conseguiu finalmente encontrar um miraculoso ajustamento para todas as caprichosas partes que constituem a alma humana. Agarrou a beleza do mundo com as mãos. Alcançou a felicidade. Se tivesse de viver outra vez, disse ele, teria vivido exactamente a mesma vida. Mas enquanto assistimos com absorvente interesse ao arrebatador espectáculo de uma alma a viver abertamente ante os nossos olhos, há perguntas que se nos impõem: Será o prazer o fim de tudo? Daí este avassalador interesse pela natureza da alma? Porquê este irresistível desejo de comunicar com os outros? Será a beleza deste mundo suficiente, ou existirá algures uma explicação para este mistério? Para isto que resposta poderá haver? Não há nenhuma. Há só mais uma pergunta: “Que sais‑je?”» [Virginia Woolf, Ensaios Escolhidos; pp. 144-145]
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