«Um poema hermético escrito de forma gnómica e esotérica, como Mensagem, não parece o mais indicado para servir de bíblia ao sonho sebástico de um Quinto Império — ele mesmo tão vinculado à mitologia cultural lusíada — e muito menos para levar essa “mensagem”, quer no conteúdo, quer na forma, além das fronteiras da língua portuguesa e das ficções próprias do seu imaginário. E todavia, não só em Portugal, como fora dele, Fernando Pessoa é, aos olhos de muitos leitores, supremamente, o autor dessa epopeia, singular e obscura, que se chama Mensagem.
A obscuridade intrínseca à poesia de Pessoa — e em particular a de Mensagem e dos poemas de inspiração ocultista — tem isto de particular: é, paradoxalmente, luminosa. O autor esconde mas mostra. A sua poesia é sempre de segunda instância e comporta como característica não apenas o facto de relevar de uma poética, mas o de ser ela mesmo uma poética em que o poema é questionamento de si mesmo na ordem do que diz, sugere ou simboliza.
Em Mensagem, a ordem que estrutura o poema e lhe dá sentido é de natureza hermética, mas a expressão dela contém e explicita a visão ocultista ou mítica que a alimenta. Assim, a dificuldade e a obscuridade de Mensagem são mais acidentais do que intrínsecas e provêm mais dos mitos ou das referências histórico‑culturais a que aludem do que da sua irremediável opacidade.» [Do prefácio de Eduardo Lourenço]
Mensagem e outras obras de Fernando Pessoa estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/fernando-pessoa/
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