2.3.21

António Mega Ferreira sobre o Romance





«O segundo grupo de “profetas” da morte do romance é, por assim dizer, mais “historicista”: os romances contemporâneos deixaram de interessar porque se desprenderam do modelo da narrativa oitocentista, verdadeira “idade do ouro” do romance moderno. Em certo sentido, também estes pensam que o essencial do romance é a história que o suporta e que essa fórmula se esgotou com os “grandes romances” do século XIX. Alguma razão de partida têm: de facto, é difícil encontrar a “história” nos romances de Proust, de Joyce, de Virginia Woolf, de Thomas Mann, para já não falar da abolição da linearidade narrativa que era tão “confortável” para o leitor […].

Em contrapartida, estes inovadores (juntamente com Faulkner) distenderam os limites do género até que este, elástico, passou a caraterizar objetos literários claramente mais abrangentes que a tradição romântica e realista. […]

A “novidade” do romance deixou de residir na originalidade do enredo (o tirânico plot), para passar a evidenciar-se na sua capacidade para interrogar o mundo, para levantar questões, para fazer pensar. Esse mecanismo de interrogação é um passo para tentar compreender todo o mundo, uma etapa de um outro conhecimento. […]

Querem novidade? Ao acaso, leiam, só no nosso século, Lincoln no Bardo, de George Saunders, O retorno, de Dulce Maria Cardoso, O ministério da felicidade suprema, de Arundhati Roy, Uma odisseia, de Daniel Mendelssohn, Era uma vez em Goa, de Paulo Varela Gomes, Cosmópolis, de Don DeLillo, Berta Isla, de Javier Marías, A louca da casa, de Rosa Montero, O meteorologista, de Olivier Rolin, Ordesa, de Manuel Vilas.» [António Mega Ferreira, JL, «A defesa do Romance», 2/12/2020, texto completo em https://visao.sapo.pt/jornaldeletras/ideiasjl/2020-12-02-a-defesa-do-romance/] 

Em busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust, obras de James Joyce,  Virginia Woolf e Thomas Mann, e Lincoln no Bardo, de George Saunders, e Cosmópolis , entre outras obras de Don DeLillo, estão disponíveis em https://relogiodagua.pt

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