«Se pensássemos pictoricamente no que parece ser o substrato simbólico-arquetípico de H.G. Cancela, atendendo a As Pessoas do Drama e a A Noite das Barricadas […], talvez nos recordássemos vagamente de alguns dos detalhes mais enfáticos das pinturas medievais, apesar do tom de exemplário moral daquelas. O pecado, o mal, a culpa. Em Cancela não há um ideário pedagógico, antes um eterno retorno do mal e as condições para que ele seja pensado como categoria ontológica. […]
O homem trágico, herói, afinal, na sua lucidez, recusa a resignação e evoca um presente absurdo deslegitimador do desespero. Uma espécie de soteriologia profana, humana; camusiana, portanto, que, se não serve de catarse, ao menos antecipa uma possibilidade de inteireza e plenitude (amor fati?), a imaginação da tal felicidade de Sísifo. Il faut imaginer…
Por fim, dos tantos paralelos que poderiam nascer destes textos de Cancela e que prometem mais do que concluem, novamente, em jeito de Ouroboros, suspeito do narrador, do narrador filho, com a mesma desconfiança da sua prosa desde As pessoas do drama: não é fiável, mascara-se e desmascara-se como quem se quisesse passar pelo verdadeiro Dioniso. E talvez isso o faça perdurável como um mito a que se regressa consoante a versão que nos seduza.» [Cláudia Capela Ferreira, Subversa, 28/12/2020. Texto completo em http://revistasubversa.com/coluna/mascaras-de-dioniso-claudia-capela-ferreira/ ]
Esta e outras obras de H. G. Cancela estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/h-g-cancela/
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