31.12.20

Maria Filomena Mónica em entrevista a Isabel Lucas




«Está numa cave, o lugar onde escreve, e diz que da janela vê o jardim do vizinho e ouve o canto dos melros. Há muitos livros pelo chão que encomendou para escrever O Olhar do Outro, lançado esta Primavera, e mais para completar O Meu País, acabado de publicar também pela Relógio d’Água. Aos 77 anos, vive fechada em casa há praticamente seis, desde que lhe foi diagnosticado um cancro. A pandemia fechou-a ainda mais. “Uma das vantagens de eu ter cancro e, além do cancro, se ter abatido sobre mim a covid, é ter tempo para escrever. A escrita é para mim um refúgio e uma maneira de sentir que não vou morrer amanhã.”

No seu mais recente livro, escreve, entre outras coisas, sobre a ideia de pertença, de nação, de fronteira, noções alteradas ou reequacionadas pela pandemia, onde espreitam fantasmas como o do nacionalismo e de limites a liberdades conquistadas. É um ponto de partida para uma conversa cheia de interrogações. Bom em 2020? A derrota de Trump.

Isabel Lucas — No seu livro O Meu País há uma dedicatória com uma data: “No ano da covid”. Esta será inevitavelmente a marca de 2020.

Maria Filomena Mónica — É.

IL — Como o tem vivido?

MFM — Eu sou uma privilegiada. Vivo numa casa grande onde me posso isolar; os meus filhos vivem na mesma cidade em que vivo e tenho acesso a um hospital onde sou muito bem tratada. Já lá estou há seis anos. Nem todas as pessoas têm as facilidades que eu tenho. Dito isto, houve qualquer coisa que me doeu ao longo deste ano, com esta pandemia, mais do que o cancro de que sofro. É uma epidemia que não compreendo nem ninguém compreende no fundo e que traz uma pergunta:quando é que acaba?»

[Entrevista de Isabel Lucas a Maria Filomena Mónica, Público, 30/12/2020.]


O Meu País e outras obras de Maria Filomena Mónica estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/maria-filomena-monica/ 

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