24.11.20

De Não Sabemos mesmo O Que Importa,de Paul Celan

 



«CORONA


À minha mão vem o Outono comer suas folhas: somos amigos.

Descascamos o tempo das nozes e ensinamo‐lo a partir:

o tempo retorna à casca.


No espelho é domingo,

no sonho dorme‐se,

a boca diz a verdade.


O meu olho desce até ao sexo da amada:

olhamo‐nos,

dizemo‐nos algo sombrio,

amamo‐nos como papoila e memória,

dormimos como vinho nas conchas,

como o mar no jorro‐sangue da Lua.


Estamos abraçados à janela, vêem‐nos da rua:

chegou a altura de se saber!

Chegou a altura de a pedra se dignar em florir,

de o coração do desassossego começar a bater.

Chegou a altura de ser altura.


Chegou a altura.» [Não Sabemos mesmo O Que Importa, p. 19]



«Um dos grandes poetas alemães do pós-guerra, em quem a liberdade do surrealismo e a linhagem do expressionismo intervencionista (Brecht, etc.) ou visionário (Trakl) criam uma linguagem nova.» [Jorge de Sena]


Não Sabemos mesmo O Que Importa de Paul Celan (trad. e posfácio de Gilda Lopes Encarnação) está disponível em https://relogiodagua.pt/produto/nao-sabemos-mesmo-o-que-importa/


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