«CORONA
À minha mão vem o Outono comer suas folhas: somos amigos.
Descascamos o tempo das nozes e ensinamo‐lo a partir:
o tempo retorna à casca.
No espelho é domingo,
no sonho dorme‐se,
a boca diz a verdade.
O meu olho desce até ao sexo da amada:
olhamo‐nos,
dizemo‐nos algo sombrio,
amamo‐nos como papoila e memória,
dormimos como vinho nas conchas,
como o mar no jorro‐sangue da Lua.
Estamos abraçados à janela, vêem‐nos da rua:
chegou a altura de se saber!
Chegou a altura de a pedra se dignar em florir,
de o coração do desassossego começar a bater.
Chegou a altura de ser altura.
Chegou a altura.» [Não Sabemos mesmo O Que Importa, p. 19]
«Um dos grandes poetas alemães do pós-guerra, em quem a liberdade do surrealismo e a linhagem do expressionismo intervencionista (Brecht, etc.) ou visionário (Trakl) criam uma linguagem nova.» [Jorge de Sena]
Não Sabemos mesmo O Que Importa de Paul Celan (trad. e posfácio de Gilda Lopes Encarnação) está disponível em https://relogiodagua.pt/produto/nao-sabemos-mesmo-o-que-importa/
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