«Nas horas vagas da minha aposentação, no momento em que pego na pena para registar as minhas recordações (são de corpo, mas cansado, tão cansado que a narrativa avançará por pequenas etapas, mas com frequentes interrupções), no momento — dizia — em que, com a minha letra nítida e agradável, me preparo para fazer as minhas confissões ao paciente papel, sou assaltado por um escrúpulo fugitivo. Com a minha cultura e a minha instrução, estarei eu à altura deste empreendimento intelectual? Como o que tenho a dizer se refere às minhas experiências, erros e paixões estritamente pessoais e directos, a minha dúvida incide apenas sobre o ritmo e a qualidade do meu modo de expressão. Ora eu penso que, em assuntos desses, os estudos aturados e levados até ao fim têm menos importância do que uma vocação natural e uma educação cuidada desde o berço.» [As Confissões de Félix Krull, Cavalheiro de Indústria, p. 9]
As Confissões de Félix Krull, concebido embora antes da I Guerra Mundial, é o seu último livro. Neste romance, parte do qual decorre em Lisboa, Thomas Mann atinge um dos pontos culminantes da sua criação com o personagem Krull, um imaginativo e amável impostor.
As Confissões de Félix Krull, Cavalheiro de Indústria (trad. Domingos Monteiro) e outras obras de Thomas Mann estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/thomas-mann/
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