30.3.20

Os Autores Respondem: Cristina Carvalho




A Relógio D’Água perguntou a alguns dos autores que publica que leituras estão a fazer e se são diferentes das habituais, que consequências poderá ter a actual pandemia nas relações individuais e na criação ensaística e literária, e ainda as suas consequências na ecologia e na política internacionais.
Publicamos em seguida essas respostas.

«— No meu caso, estou a ler o que preciso — e é muito! — para continuar a escrever o que estou a escrever. Durante o dia, tenho um livro em cima de secretária com 510 páginas (das grandes, formato álbum) e que pesa 8 quilos, escrito em inglês. Também tenho marcadores de várias cores e muitos papelinhos autocolantes. À noite, leio livros de tamanho normal em espanhol e francês, tudo sobre a mesma pessoa. Não leio mais nada, de momento, além destes livros.

— É natural que esta calamidade suscite novos temas ensaísticos e literários. Nada mais previsível. Poderão surgir romances e romances e ficção variada sobre a pandemia virótica? Acho que sim. Quer dizer, não me passa pela cabeça escrever ficção sobre este assunto, mas enfim, penso que tudo é possível e legítimo. Alteração das relações individuais? Eu ser diferente, ter adquirido uma nova visão do mundo, uma nova maneira de actuar, de conviver, conhecer novos sentimentos, desenvolver diferentes atitudes e empatias? Só posso falar por mim: acho que não.

— Gostava de conseguir imaginar novas atitudes, sim. Individualmente, sim. Outro respeito, outro conhecimento, mais educação em todas as vertentes possíveis. Nesta questão das novas atitudes planetárias que partem sempre da actuação individual, todas as intenções até agora já foram traduzidas por palavras e por presenças mais ou menos simpáticas, atractivas, convincentes, e temos, por exemplo e ultimamente, a presença bem viva e actuante da menina Thunberg. Mas… há consequências visíveis? O quê, assim concretamente, sem ser conhecer de olhos fechados as cores dos contentores do lixo? Ainda ontem vi uma fotografia de um canto de uma rua de Lisboa, num passeio, num cantinho do passeio, um monte de máscaras e luvas descartáveis…»

Ingmar Bergman: O Caminho contra o Vento e outras obras de Cristina Carvalho estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/cristina-carvalho/

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