«O desconhecido estava sentado à sua frente, também de sobretudo e chapéu, na sua cama, sorria ligeiramente, e, franzindo um pouco os olhos, acenou-lhe amigavelmente com a cabeça. O senhor Goliádkin queria gritar, mas não pôde — protestar de alguma maneira, mas não lhe chegavam as forças. Tinha os cabelos em pé e sentou-se no seu lugar, insensível de horror. E de resto havia razão para isso. O senhor Goliádkin reconheceu completamente o seu amigo noturno. O seu amigo noturno não era outro senão ele próprio — o próprio senhor Goliádkin, outro senhor Goliádkin, mas exatamente como ele — numa palavra, aquilo a que se chama o seu duplo em todos os aspetos…»
O Duplo foi publicado em 1846, quando Dostoievski contava apenas 24 anos.
O tema do duplo foi depois muitas vezes abordado na literatura, mas a narrativa de Dostoievski estabelece uma rutura com as convenções literárias até então vigentes.
Goliádkin é o símbolo da revolta do homem contra as instituições sociais, mas também contra si próprio.
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