2.4.19

Sobre Léxico Familiar, de Natalia Ginzburg




«O registo em tom autobiográfico esteve sempre muito presente na sua escrita. Léxico Familiar (1963) — considerado um clássico da literatura italiana contemporânea, e o principal livro da autora — tem também esse tom de quem conta de si, mas de um modo bastante singular: o “eu” que vai escrevendo aquilo que recorda não é central à narrativa, pouco aparece; percebe-se que foi participante dos acontecimentos mas que ao narrá-los se torna apenas numa sua testemunha, fazendo dos outros os verdadeiros biografados, são eles quem lhe importa. Léxico Familiar é assim uma espécie de autobiografia afectiva da autora.
Natalia Ginzburg adverte que não inventou nada, e recorda o seu “velho costume de romancista”: sempre que inventava, sentia-se de imediato impelida a destruir o que escrevera. Os nomes são reais. Escreveu apenas aquilo de que se lembrava, mas não escreveu tudo o que recordava; e de entre as lembranças deixou de fora tudo o que lhe dizia mais directamente respeito. “Não tinha muita vontade de falar de mim. Não se trata, com efeito, da minha história, mas antes, com vazios e lacunas, da história da minha família.”» [José Riço Direitinho, Público, ípsilon, 29/3/2019. Texto completo em https://www.publico.pt/2019/04/01/culturaipsilon/critica/nao-inventei-nada-1866814 ]

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