«Logo no primeiro conto deste magnífico livro de Alexandre Andrade, uma artista plástica bastante esquiva mete conversa com um dos visitantes da sua exposição, apenas porque ele não a reconhece quando a vê na rua, do lado de fora da galeria. Às tantas, a pintora evoca um quadro de Barnett Newman (“Who’s Afraid of Red, Yellow and Blue III”) e recorda o facto de essa obra ter sido retalhada, com um x-acto, por um pintor esquizofrénico que colocou no ataque um “sentido de missão”, na tentativa de “livrar a humanidade de um perigo imenso”. Esse perigo nasce da vertigem que uma tela pode provocar a quem a contempla: “É demasiado humana a tentação de projectarmos os nossos anseios, terrores e desejos naquela superfície sem fim.” O que une as histórias de “Todos Nós Temos Medo do Vermelho, Amarelo e Azul” é a consciência dessa vertigem, desse mistério, dessa pulsão. […]
Já o melhor conto do livro — e provavelmente o melhor conto que o autor destas linhas leu nos últimos anos (em qualquer língua) — decorre em Odivelas, num edifício “cheio de luz” e paredes de vidro, que alberga uma incubadora de startups (alvo de deliciosa sátira). […] A escrita de Alexandre Andrade é sempre imaculada, mas aqui ergue-se a alturas estratosféricas. Sem risco de exagerar, consideramo-lo um texto perfeito.» [José Mário Silva, Expresso, E, 2/3/2019]
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