Um retrato de mulher à sombra de Oliveira iluminou a Berlinale
A Portuguesa, de Rita Azevedo Gomes, baseado em narrativa de Agustina Bessa-Luís, brilha no Festival de Berlim.
A Portuguesa, de Rita Azevedo Gomes, filme seleccionado para a secção paralela Forum, começou em Berlim o seu périplo europeu, depois da estreia em Novembro no festival argentino Mar del Plata.
O filme tem como argumento um texto de Agustina Bessa-Luís, que por sua vez se inspirou em “A Portuguesa», de Robert Musil. Contrastando com o Inverno grisalho lá fora, a realizadora de A Vingança de uma Mulher e Correspondências constrói, com um passe de magia, uma colorida fábula medieval sobre uma dama lusa casada com um conde guerreiro, o senhor Von Ketten (ou “senhor dos grilhões”) que passa mais tempo fora de casa a guerrear.
Não é – nunca foi – segredo para ninguém a dívida que Rita Azevedo Gomes sempre teve para com o mestre nortenho, de quem se assumiu sempre discípula devota e que nunca escamoteou na sua escassa filmografia. Mas A Portuguesa deixa, de algum modo, a sensação de estar aqui o equivalente de Vale Abraão na obra da cineasta – um retrato de mulher fogosa e desafiadora das normas, que enfeitiça e horroriza aqueles que a rodeiam e que admite ser ateia e blasfema. Já dizia a célebre frase, “as meninas boas vão para o céu, as más para todo o lado”, e a pele de alabastro e o cabelo cor de fogo de Clara Riedenstein, presença aparentemente de porcelana, escondem uma determinação implacável – ela não é uma menina boa.
[A partir do artigo de Jorge Mourinha, Público, 8/2/2019; imagem do filme A Portuguesa, de Rita Azevedo Gomes]
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