8.10.18

Sobre Viagens, de Virginia Woolf




«[…] um livro que a autora nunca escreveu. A partir de excertos do diário, cartas avulsas, artigos e ensaios, Jorge Vaz de Carvalho organizou um volume com este título. Com efeito, a autora de Mrs. Dalloway nunca escreveu um livro de viagens, mas a solução encontrada preenche a lacuna. Ao longo da vida, Virginia fez viagens a Itália, Portugal, Espanha, Grécia, Turquia, Alemanha, França, Irlanda e Holanda, repetindo algumas em anos diferentes. A França, por exemplo, foi dezasseis vezes. Escreveu sobre essas experiências a partir de Novembro de 1904, tinha então 22 anos. Várias delas foram mais tarde transpostas para obras de ficção. As observações sobre Portugal são parcimoniosas. Virginia e o irmão Adrian desembarcam em Leixões, apanhando no Porto o comboio para Lisboa porque uma avaria no navio alterou os planos iniciais. Acerca de Lisboa, diz que é uma cidade «ampla, brilhantemente branca e limpa...». Refere o Hotel Borges, onde ficaram instalados, os eléctricos velozes, o Cais do Sodré, a Praça do Cavalo Preto (o Terreiro do Paço) e uma visita ao cemitério inglês para ver a campa de Henry Fielding, o autor de Tom Jones (1749). A partida para Sevilha deu-se nessa mesma noite. Portugal foi um brevíssimo entreacto. Mas, por comparação com a capital portuguesa, considera Sevilha cheia de defeitos: «É uma cidade a que acho difícil acostumar-me.» Numa carta a Violet Dickinson datada de Abril de 1905, matiza o juízo, mas volta a sublinhar que «Lisboa é uma cidade esplêndida, com pelo menos um belo edifício, a grande igreja em Belém.» Na Primavera de 1925, no extremo Sul da França, acompanhada de Leonard, algures entre Cassis e La Ciotat, sente-se feliz: «Ninguém dirá de mim que não conheci a felicidade perfeita.» O turismo não era o que é hoje, mas Virginia não deixa de reflectir sobre relações entre «pessoas que não se conhecem». Em Maio de 1937, com a guerra no horizonte, Virginia volta a França: «No domingo foi a fête. Pessoas com roupas vivas. Aldeias cheias de homens negros, ali parados.» Um belo patchwork de textos de natureza diferente.» [Eduardo Pitta, no blogue Da Literatura, a propósito de crítica na revista Sábado, 3/10/18]

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