O JL publica uma entrevista a H. G. Cancela , vencedor do Grande Prémio de Romance e Novela da APE com As Pessoas do Drama, e também uma crítica de Miguel Real ao seu último livro, A Terra de Naumãn.
Na entrevista de Maria Leonor Nunes, afirma-se:
«Cada romance, a projeção de um olhar. O olhar do protagonista e narrador. Porque “se olharmos de diferentes pontos de vista, vemos diferentes coisas”, adianta ao JL. Essa a estratégia criativa de H. G. Cancela, que acaba de ser distinguido com o Grande Prémio de Romance e Novela APE, da Associação Portuguesa de Escritores/Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas, pelo seu romance As Pessoas do Drama, publicado em 2017 pela Relógio D’Água, editora em que agora publica A Terra de Naumãn. Duas ficções distintas, mas um mesmo rigoroso trabalho sobre a língua. Porque, diz o escritor, “as palavras podem dizer tudo ou quase nada”. E importa usar a linguagem para “dizer o que não sabíamos que tínhamos para dizer”.
Helder Gomes Cancela nasceu em 1967 em Coimbra, onde vive. A escrita sempre foi o seu objetivo, mas seguiu Filosofia, para “aprender pensamento”. Escrever é, para ele, pensar o mundo. Escrever é, para ele, pensar o mundo. Licenciou-se e doutorou-se na Universidade de Coimbra e atualmente dá aulas de Estética na Faculdade de Belas Artes do Porto.
Publicou um livro de poemas, Novembro, em 2003. Já tinha então editado o romance de estreia, Anunciação, em 1999, a que se seguiram De Re Rustica (2011), Impunidade, em 2014, também finalista do Prémio APE, além do ensaio O Exercício da Violência, entre outros. Um percurso discreto, mas firme, de quem tem uma forte “crença na literatura”.
Jornal de Letras: A Terra de Naumãn é uma fábula sobre a inviabilidade do futuro hoje?
H. G. Cancela: Sem dúvida é uma fábula, mas não pretende ser uma metáfora ou alegoria do presente. O objetivo, bastante ambicioso e razoavelmente modesto, foi colocar o pensamento numa vida, numa cultura, diante da ameaça do abismo. A partir do momento em que assenta sobre um conjunto de factos de carácter histórico, tem uma sugestão de legitimidade, que, no entanto,nunca ultrapassa a dimensão ficcional.» [Entrevista de Maria Leonor Nunes a H. G. Cancela, JL, 29/08/2018]
«H. G. Cancela acaba de publicar um novo romance, A Terra de Naumãn. Era previsível que o seu universo catastrófico e apocalíptico o conduzisse a um registo distópico, género um pouco em moda em Portugal, neste princípio de século (Sandro William Junqueira, Joana Bértholo, de certo modo, João Reis, o último Nuno Camarneiro…) A originalidade de A Terra de Naumãn reside no tempo diegético (há 65 milhões de anos) e no conjunto das personagens (todas sáurios). Trata-se de uma alegoria sobre um possível futuro cataclismo humano e comporta uma mensagem urbi et orbi, como todo o grande romance: se a humanidade prosseguir no caminho que tem traçado, sucede-lhe o mesmo0 que aos sáurios gigantes, a extinção, não por efeitos exteriores (um asteroide a chocar contra a Terra), mas por efeitos puramente humanos (consequências da Era do Antropoceno).» [Miguel Real, JL, 29/08/2018]
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