«— Magoei‑te?
— Não.
— Estás zangado comigo?
— Não.
Era verdade. Naquele momento tudo era verdade, visto que ele vivia a cena em estado bruto, sem se interrogar, sem tentar compreender, sem suspeitar sequer que chegaria a altura em que qualquer coisa haveria a perceber. Mas não só tudo era verdade como tudo era real: ele, o quarto, Andrée, que continuava estendida sobre o leito em desalinho, nua, as pernas entreabertas, com a mancha sombria do sexo de onde brotava um fio de esperma.
Era feliz? Se lho tivessem perguntado, responderia sim sem hesitar. Nem lhe passava pela cabeça zangar‑se com Andrée por esta lhe ter mordido o lábio. Este facto fazia parte de um conjunto, assim como o resto, e ele, igualmente nu, de pé, em frente do espelho do lavatório, dando pancadinhas no lábio com a toalha embebida em água fria.
— A tua mulher vai fazer‑te perguntas?
— Creio que não.»
“Um dos maiores escritores do século XX.” [The Guardian]
“Adoro ler Simenon. Faz-me lembrar Tchékhov.” [William Faulkner]
“Um escritor maravilhoso… Lúcido, simples, em perfeita sintonia com o que escreve.” [Muriel Spark]
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