19.7.17

Jane Austen duzentos anos depois





A romancista inglesa Jane Austen morreu a 18 de Julho de 1817, mas as sucessivas reedições das suas obras e as adaptações cinematográficas e televisivas confirmam a sua actualidade.
A consistência dos seus enredos, a intensa vida íntima das suas personagens, particularmente das femininas, a sua ligação com a sociedade da época, o humor e inovações narrativas justificam um tão singular destino.
Uma das constantes das suas obras é o alvoroço causado nas famílias com filhas em idade de casamento pela instalação nas proximidades de algum proprietário ainda solteiro.
Mas as suas personagens não se modificam, apenas se vão conhecendo melhor ao enfrentarem os obstáculos da vida.
Com A Abadia de Northanger rompeu com a literatura gótica do seu tempo e com Lady Susan abandonou o sentimentalismo de Samuel Richardson (autor do romance epistolar Clarissa).
A sua persistente actualidade foi apenas partilhada por escritoras que não por acaso nasceram pouco depois da sua morte, como Emily Brontë e George Eliot (e por escritores como Charles Dickens ou Henry James).



De Jane Austen, a Relógio D’Água publicou Sensibilidade e Bom Senso, Mansfield Park, Orgulho e Preconceito, Lady Susan, Persuasão, A Abadia de Northanger e Emma.

«O que poderia ter sido então mais natural, ante este vislumbre da sua profundidade, do que Jane Austen decidir escrever sobre as trivialidades da vida quotidiana, as festas, os piqueniques e os bailes na província? Nenhumas sugestões vindas do príncipe regente ou de Mr. Clarke para «alterar o seu estilo de escrita» a poderiam tentar; nenhum romance, nenhuma aventura, política ou intriga poderiam fazê-la ver a vida de maneira diferente. Na verdade, o príncipe regente e o seu bibliotecário tinham vindo chocar contra um obstáculo formidável ao tentarem interferir com uma consciência incorruptível, com uma infalível sagacidade. A criança que compunha tão magnificamente as suas frases aos quinze anos nunca deixou de as compor e nunca escreveu para o príncipe regente ou para o seu bibliotecário, mas para o mundo em geral. Ela conhecia exactamente as suas capacidades e sabia que material estavam habilitadas a tratar como ele deve ser tratado por uma escritora que se impõe níveis de qualidade muito elevados. Havia impressões que extrapolavam a sua área de competência; emoções que sem esforço nem artifício podiam ser adequadamente trabalhadas com os seus próprios recursos. Por exemplo, ela não podia pôr uma rapariga a falar entusiasticamente de bandeiras e capelas. Não podia lançar-se de alma e coração num momento romântico. Usava todo o tipo de recursos para evitar cenas de paixão. Abordava a natureza e as suas belezas de uma forma oblíqua, muito sua. Descreve uma bela noite, mas sem mencionar a lua. Não obstante, ao lermos as suas poucas frases formais sobre «a luminosidade de uma noite sem nuvens e o contraste com as sombras cerradas do bosque», a noite torna-se imediatamente tão «solene, calmante e encantadora» como ela, com toda a simplicidade, nos diz que era.
O equilíbrio entre os seus dons era singularmente perfeito. Entre os romances que terminou não há fracassos, e entre os seus muitos capítulos poucos são os que ficam notoriamente aquém dos restantes. Mas, afinal, ela morreu com quarenta e um anos, no auge das suas capacidades, numa idade em que ainda estava sujeita àquelas mudanças que tantas vezes fazem do final da carreira de um escritor o seu período mais interessante. Viva, irreprimível, dotada de grande vitalidade criativa, não restam dúvidas de que, se tivesse vivido mais tempo, teria continuado a escrever, e é irresistível pensar se teria escrito de maneira diferente.» [Virginia Woolf]

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