20.2.17

Sobre Dias Birmaneses, de George Orwell (trad. Alda Rodrigues)




«A acção de Dias Birmaneses — centrada num desses “clubezinhos assombrados por Kipling”, um desses clubes reservados a europeus e que, como “em qualquer cidade da Índia”, são “o verdadeiro baluarte espiritual, a verdadeira sede do poder britânico” — decorre em meados dos anos 20 do século passado. A cidade fictícia, numa das margens do rio Irauádi, tinha “cerca de quatro mil habitantes, incluindo duas centenas de indianos, umas quantas dezenas de chineses e sete europeus”. O quotidiano é sufocante — literal e metaforicamente —, mesquinho, venenoso, e não há, praticamente, nenhuma personagem desenhada para nos inspirar empatia, nem do lado dos colonizadores nem do lado dos colonizados. Aliás, uma das personagens memoráveis do romance (a outra sendo Flory) chama-se U Po Kyin, um magistrado local que é o epítome de um vilão maquiavélico e corrupto. A sua amoral e perversa ambição é tão exacerbada que chega a parecer caricatural, mas é decisiva para propulsar a acção e o seu desenlace. Nascido para perder, Flory, o protagonista, é ambivalente, podendo até suscitar a nossa compaixão.» [Mário Santos, Público, Ípsilon, 17/2/2017]

Sem comentários:

Enviar um comentário