9.1.17

José Gardeazabal conversa com Isabel Lucas a propósito do seu último livro, Dicionário de Ideias Feitas em Literatura




«Leitura e tempo estão no princípio da escrita como a entende José Gardeazabal. Quem é? Pseudónimo literário de José Tavares que parece não ter grande explicação: “O nome não é importante. Mas o nome cria um espaço para a literatura respirar, é uma forma de respeito para com os leitores e para comigo. O importante é a literatura, já não é mau que se trate de um nome relativamente fácil de pronunciar.” Foi com esse nome que venceu o Prémio Imprensa Nacional Casa da Moeda/Vasco Graça Moura com o primeiro livro,história do século vinte, volume de poesia publicado em 2015, “um olhar o século de fora para dentro, como se fosse coisa viva”, diz numa conversa com o Ípsilon quando sai o seu segundo título, Dicionário de Ideias Feitas em Literatura (Relógio d’Água), prosa fragmentada que materializa em palavras essa relação inicial: o escritor que nasce da experiência do leitor. Ele esclarece: “Os textos do Dicionário partem de uma palavra, de parte de uma frase de um autor, ou uma nota minha a respeito desse autor, e depois abrem para a escrita sob a forma de prosa curta. O único critério foi partir de autores que me proporcionaram alegria enquanto leitor.”
 
 

São 176 entradas. Uma chama-se Agora e parte da leitura de Carlos Drummond de Andrade. Nela o narrador pergunta: “E agora, José? Queres prosa? Queres poesia?” Pega-se na pergunta e, dois livros diferentes num ano, dirigimo-la a Gardeazabal. E agora, José? Ele responde: “Prosa, poesia, teatro, outros textos. O Dicionário... foi catalogado nas livrarias como ‘outras formas literárias’. Há neste livro e nesse excerto uma certa brincadeira com o desafio da feitura da literatura. Um olhar de desafio e de empatia. Como se alguém estivesse no chão de um circo a observar-se a si mesmo como escritor no trapézio, e perguntasse: ‘Prosa? Poesia?’ Anda lá, despacha-te, faz o que tens a fazer.’» [Isabel Lucas, ípsilon, Público, 6/1/17]

 

Fotografia do autor por Enric Vives-Rubio.

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