12.12.16

Karl Ove Knausgård fala ao Expresso sobre os novos livros, a propósito da recente edição em Portugal de No Outono e de Dança no Escuro


 

«Karl Ove Knausgård rompe com o passado. No Outono é o contrário de tudo o que o escritor norueguês fez na saga que o tornou famoso. Trata-se de uma celebração da vida, uma enciclopédia de pequenas coisas que já nõ mergulha nas profundezas da sua alma, mas em pequenos nadas que podem ser tudo.»



«No princípio de No Outono, diz que a experiência que adquiriu ao trabalhar no jardim o convenceu de que não há qualquer razão para ser cauteloso ou ter medo de alguma coisa: “A vida é tão robusta.” O que é que aconteceu à ansiedade de A Minha Luta?

É uma boa pergunta. A experiência de A Minha Luta vem do interior, da vivência interna do que é ser aos 40 anos uma criança muito vulnerável e sensível. É um livro escrito a partir do interior da dor [refere-se sempre a A Minha Luta como um único livro]. Em No Outono, parto da experiência do que é ser criança a partir do exterior. São situações muito distintas. Os filhos parecem-nos muito frágeis ao nascer, e por isso temos muito medo de que se magoem com qualquer coisa. Com o passar do tempo descobrimos que as crianças são mais fortes e robustas do que imaginávamos. Nestes livros [sobre as quatro estações do ano] faço uma aproximação otimista ao que é a vida e ao que é crescer e tornar-se adulto. Quero que os meus filhos percebam essa robustez.

 

Está a tentar dar-lhes a confiança que lhe faltou quando era criança?

Sim, sem dúvida. O problema do meu crescimento não foi a falta de confiança no que podia fazer, mas a falta de confiança em mim próprio. O comportamento do meu pai tornava-me muito inseguro, levava-me a duvidar de tudo. Fazia-me sentir culpado mesmo quando não tinha feito nada de mal… Ainda hoje, sem saber porquê, acordo a sentir-me culpado. Não quero que as minhas crianças sintam isso, embora saiba que é impossível protegermos os nossos filhos de nós mesmos. Não posso evitar que escrevam um livro como o meu daqui a 15 ou 20 anos, mesmo que sinta que estão errados. As queixas partem sempre de uma visão subjetiva. Cresci com o meu irmão. Tivemos a mesma educação, os mesmos pais, as mesmas circunstâncias e o nosso crescimento foi totalmente diferente. Ele tem uma personalidade totalmente distinta da minha. Se eu tivesse sido uma criança mais forte, a relação com o meu pai teria sido diferente.

 

O que é que fez com que voltasse a escrever?

A ideia de que não voltaria a escrever vem de A Minha Luta. Na altura em que o disse, o meu editor disse-me logo que era provável que mudasse de opinião. Na verdade, acho que nunca considerei parar de escrever. Considerei parar de escrever daquela maneira, depois do esvaziamento que senti.» [Entrevista de Cristina Margato, Expresso, 12/11/2016]

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