«O Vermelho fechou o livro com violência. E encarou
severamente o Amarelo. As outras cores, em volta, suspiraram. Adivinhava‑se
um momento desconfortável. Direi mais: um momento de tensão. Direi mais: um
momento de combate. O Amarelinho tentou cruzar as pernas para tornar a posição
mais consistente, mas não tinha joelhos para dobrar. As cores olhavam para o
Vermelho, à espera. Ele fora eleito para as representar. E o Vermelho estava mesmo
muito vermelho sob o efeito da cólera:
— Estamos à espera de uma explicação.
— Explicação… — repetiu o Amarelinho, para fazer tempo.
— Explicação de quê?
As cores pigarrearam e mexeram-se. Começaram até a
segredar. Mas o Vermelho impôs a sua autoridade.
— Não te faças de parvo. Sabes bem.
Tirou de um saco um livro muito fino e exibiu-o a todos, como
vira fazer num filme com uma prova em tribunal.
— A Luz de
Newton, primeira edição. As sete
cores do arco-íris: somos nós.
— Sim, somos todas nós — disse Liliana.
— E ocupamos — afirmou o Verde — praticamente o mesmo espaço
cada uma.»
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