«Shakespeare escreveu as suas peças como dramaturgo residente de
uma companhia de teatro em que foi actor, e de que era um dos proprietários. A
sua dramaturgia foi criada para a cena, no mundo londrino isabelino de acesa
competição entre teatros. Os enredos das peças raramente são originais,
resultando, em vez disso, de textos anteriores, dramáticos ou não, que adopta
de modo singular ou compósito. Porque dispomos da generalidade dos textos que
serviram de fonte de cada uma delas, a análise das suas peças poderá incidir
sobre a alteração sofrida pelo texto de que derivam, estando a originalidade do
dramaturgo no modo de passagem de um a outro texto. No uso desses textos de que
se serve como fonte ou modelo, os motivos ou razões das personagens, claros no
texto de origem, são esbatidos ou silenciados, seja no interesse de capturar o
público, desconcertando-o quanto ao que possa animar as personagens, desse modo
tornadas imprevisíveis; seja por o autor presumir o enredo conhecido pela
assistência, não sendo, por isso, necessário encadeá-lo com justeza; seja pelo
relativo desinteresse que parece ter na mecânica dramatúrgica das suas peças.»
[António M. Feijó]
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