«Fala, Memória,
a autobiografia de Nabokov, é um supremo exercício literário.
Só comparável em
importância às Confissões de Santo Agostinho ou de Rousseau.
Nada de paixões
por reflexos em fontes ou de madalenas mergulhadas no chá. Para Vladimir Nabokov
(1899-1977), uma autobiografia honesta e perene nasce, não de um gesto
egocêntrico ou narcótico, mas de um ato «excêntrico»: o de moldar um conteúdo
individual a uma forma impessoal e artística. Para ser verdadeira, a criação
autobiográfica deve, antes de mais, tomar a rememoração como exercício técnico
de procura, exploração e análise de «sendas ou correntes temáticas» nas regiões
mais remotas da vida passada. Segundo este método, a retrospecção é uma
tentativa de transformar uma evidência numa conclusão.»
[Filipa Melo, no
blogue Coração Duplo, crítica a Fala, Memória publicada na Ler de Maio de
2013]
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