11.8.15

Sobre Um Homem Apaixonado, de Karl Ove Knausgård





No último número do ípsilon (07/08/2015), José Riço Direitinho escreve sobre Um Homem Apaixonado, o segundo volume de A Minha Luta, de Karl Ove Knausgård.
«Podemos sempre argumentar que nunca faltaram romances a “contar a vidinha” (supostamente interessante) do autor, mas o que se passa nos volumes de A Minha Luta (e sobretudo neste Um Homem Apaixonado) é muito mais do que isso: o “eu narrador” que se confunde com o “eu autoral” não se limita a enunciar e descrever factos, pensa-os e apresenta-os de uma forma tão singular que já não é a suposta vida do autor que interessa (ou a exposição de um método de procura de uma identidade a que se chega reconstruindo a memória), mas a vida do leitor, através de um processo de identificação com o que é narrado. Quando Knausgård conta, por exemplo, que a partir do momento em que passou a empurrar o carrinho de bebé as mulheres deixaram de olhar para ele, o narrador não está apenas a enunciar o facto mas a pensar a masculinidade e a discutir os papéis de género; quando fala de Dostoievski, não é o autor russo que está em causa, antes a prevalência do humano num mundo do século XIX abandonado por Deus e desde então radicalmente transformado: já não é o homem que deambula no mundo, é o mundo que deambula pelo homem; e quando as deambulações mudam de sentido, o resultado é sempre a falta de sentido… Esse sentido que Karl Ove Knausgård nos ajuda a procurar recuperando um tempo (o seu, biográfico) – e com isso nos reconstrói.»


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