«O Separar das Águas e Outras Novelas dá a ler (ou reler) o primeiro livro de Hélia Correia, a novela que dá título à recolha (1981), além de Villa
Celeste (1985) e Soma (1987). Em qualquer uma destas ficções, sobressai a capacidade de aliar o cuidado da palavra à
economia do dizer. A sua escrita
oscila entre a modernidade em que a autora claramente se insere e o passado da tradição. O que é sensível
numa
linguagem isenta da pretensão de
novidade, no que esta tem de fugaz e excessivo; como nos temas, tantas vezes procurados no mundo recolhido das pequenas comunidades. É o caso da novela O
Separar das Águas, que descreve a
localidade de Vilerma. Contudo, esse tipo de enquadramento permite, ainda, à
escritora retratar, sem mimetismos excessivos, tensões sociais, epocais e de
género. Neste caso, a jovem República, a persistência da memória do regime
anterior, a (quase) omnipresença religiosa e as inevitáveis clivagens de uma
sociedade fechada e calcificada na sua estratificação. A “novela ingénua” Villa Celeste deixa
deliberadamente por resolver as tensões que habitam grande parte da obra de
Hélia. Entre o introspectivo e o que se abre ao mundo, entre o naturalista e o maravilhoso,
esta novela decide o seu lugar precisamente na fronteira. Talvez por isso
possamos ler do “fim da história que não acaba aqui”. Porque esta ficção existe
algures onde acaba o irreal e começa a realidade recriada na escrita. É o que
sucede em Soma, onde planos opostos se interrogam e uma personagem (António)
“lutara contra os dois mil anos anteriores”.» [Hugo Pinto
Santos, Time Out, 12-08-2015]
21.8.15
Sobre O Separar das Águas e Outras Novelas, de Hélia Correia
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