No último número
do ípsilon (17/7/15) que lhe dedica a capa, é publicada uma entrevista
feita por Isabel Lucas à escritora Elena Ferrante.
É a primeira
entrevista concedida pela autora a um órgão de comunicação português e uma das
raras que concedeu a nível mundial, até porque tem mantido um persistente
anonimato. A entrevista surge na altura em que a Relógio D’Água publica o
romance História do Novo Nome, segundo volume da tetralogia A Amiga Genial
(título que surge depois da edição de Crónicas do Mal de Amor em Maio
de 2014).
«Há uma imagem que permanece depois desta entrevista,
tão forte e tão clara como as que povoam as suas histórias. “Uma pessoa que
trata da vida de todos os dias transportando sempre um livro e um bloco de
notas na mala de mão.” Elena Ferrante é essa pessoa. Continua sem rosto para os
leitores que a seguem um pouco por todo o mundo e vêem nela uma das mais
poderosas escritoras da actualidade, capaz de descrever o que de mais íntimo,
reservado, ambíguo e explosivo existe no acto de viver. É um íntimo com uma paisagem
definida. As personagens carregam o ambiente onde se fizeram. E as de Ferrante,
como ela, construíram-se em Nápoles, a cidade que ama e odeia, mas sem a qual
não vive.»
«Numa entrevista sobre as razões do seu anonimato,
respondeu: “Escrever sabendo que não vou aparecer produz um espaço de absoluta
liberdade criativa.” Acha que a sua escrita seria diferente se não tivesse
escolhido não se revelar?
Tenho a certeza disso. Divulgar a própria pessoa ao mesmo tempo que o livro, segundo o costume da indústria cultural, é completamente diferente de nos escondermos no texto e de não sairmos dele a não ser graças às capacidades imaginativas dos leitores.»
Tenho a certeza disso. Divulgar a própria pessoa ao mesmo tempo que o livro, segundo o costume da indústria cultural, é completamente diferente de nos escondermos no texto e de não sairmos dele a não ser graças às capacidades imaginativas dos leitores.»
«Quais são os seus autores de referência, os que a
influenciaram e influenciam?
Muitas vezes os escritores atribuem-se antepassados literários de grande relevo, cujo eco, porém, é inconsistente nas suas obras. Por isso, é melhor não referir nomes excelsos, que só assinalam o grau da nossa soberba. Prefiro enunciar um método: uma vez que somos mais influenciados por aquilo que os especialistas dizem dos grandes livros do que pela sua leitura, é preferível ler os textos, quer sejam grandes ou pequenos, para os subtrair ao perímetro em que os encerraram e procurar as páginas que, aqui e agora, nos ajudam a fugir ao óbvio.»
Muitas vezes os escritores atribuem-se antepassados literários de grande relevo, cujo eco, porém, é inconsistente nas suas obras. Por isso, é melhor não referir nomes excelsos, que só assinalam o grau da nossa soberba. Prefiro enunciar um método: uma vez que somos mais influenciados por aquilo que os especialistas dizem dos grandes livros do que pela sua leitura, é preferível ler os textos, quer sejam grandes ou pequenos, para os subtrair ao perímetro em que os encerraram e procurar as páginas que, aqui e agora, nos ajudam a fugir ao óbvio.»
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