24.7.15

Do Prefácio de Nuno Markl a Uma Conspiração de Estúpidos, de John Kennedy Toole





«Descobri Uma Conspiração de Estúpidos numa livraria de Nova Iorque, em 1999. É provável que não precisasse de referir o enquadramento em que descobri o livro. Porque o fiz? Talvez para me armar em snob e parecer muito mais importante e sofisticado do que, na verdade, sou (fui para lá em turística, graças a uma promoção em que o voo e o hotel me saíram extremamente baratos). Já tinha ouvido falar e lido algumas referências sobre este clássico da literatura americana, mas nunca me ocorrera lê-lo; a aparente importância da minha frase inicial morre aqui também, pois o que me levou a comprar o livro foi ele estar em saldos e eu precisar de uma obra para ler na viagem de volta a Portugal.
Mal eu sabia que tinha nas mãos um dos meus futuros livros preferidos de sempre e um que me complicaria a apreciação de alguns bons livros que li a seguir («Pronto, é bom mas não é Uma Conspiração de Estúpidos!»). A viagem Nova Iorque — Lisboa passou num instante, com a saga do balofo e arrogante Ignatius e a sua caótica busca por um emprego (e, no fundo, pelo sentido da vida) a ser lida com uma voracidade só interrompida pela ideia de que, mal aterrasse, teria de me dedicar a caçar as outras obras de John Kennedy Toole. Pensamento que depressa esmoreceu ao recordar-me das palavras do escritor Walker Percy no prefácio da minha edição do livro, narrando a triste — mas por fim vitoriosa — saga de Uma Conspiração de Estúpidos. Toole escrevera apenas dois livros — para além deste, A Bíblia de Néon — e suicidara-se em 1969, vítima de uma depressão profunda, alimentada por anos de rejeição do seu trabalho por vários editores. Se o mundo tem hoje esta preciosidade que é Uma Conspiração de Estúpidos, isso deve-se ao comovente e inabalável empenho da mãe do autor, Thelma Toole, e do próprio Walker Percy, que abriu as portas do mundo literário à obra de John Kennedy Toole. O autor morreria longe de imaginar que o seu livro ganharia um Pulitzer e acabaria por tornar-se uma das obras maiores da literatura americana.» [Do Prefácio de Nuno Markl]

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