«Descobri Uma Conspiração de Estúpidos
numa livraria de Nova Iorque, em 1999. É provável que não precisasse de referir
o enquadramento em que descobri o livro. Porque o fiz? Talvez para me armar em
snob e parecer muito mais importante e sofisticado do que, na verdade, sou (fui
para lá em turística, graças a uma promoção em que o voo e o hotel me saíram
extremamente baratos). Já tinha ouvido falar e lido algumas referências sobre
este clássico da literatura americana, mas nunca me ocorrera lê-lo; a aparente
importância da minha frase inicial morre aqui também, pois o que me levou a
comprar o livro foi ele estar em saldos e eu precisar de uma obra para ler na
viagem de volta a Portugal.
Mal eu sabia que tinha nas mãos um dos
meus futuros livros preferidos de sempre e um que me complicaria a apreciação
de alguns bons livros que li a seguir («Pronto, é bom mas não é Uma
Conspiração de Estúpidos!»). A viagem Nova Iorque — Lisboa passou num
instante, com a saga do balofo e arrogante Ignatius e a sua caótica busca por
um emprego (e, no fundo, pelo sentido da vida) a ser lida com uma voracidade só
interrompida pela ideia de que, mal aterrasse, teria de me dedicar a caçar as
outras obras de John Kennedy Toole. Pensamento que depressa esmoreceu ao
recordar-me das
palavras do escritor Walker Percy no prefácio da minha edição do livro,
narrando a triste — mas por fim vitoriosa — saga de Uma Conspiração de
Estúpidos. Toole escrevera apenas dois livros — para além deste, A
Bíblia de Néon — e suicidara-se
em 1969, vítima de uma depressão profunda, alimentada por anos de rejeição do
seu trabalho por vários editores. Se o mundo tem hoje esta preciosidade que é Uma
Conspiração de Estúpidos, isso deve-se
ao comovente e inabalável empenho da mãe do autor, Thelma Toole, e do próprio
Walker Percy, que abriu as portas do mundo literário à obra de John Kennedy
Toole. O autor morreria longe de imaginar que o seu livro ganharia um Pulitzer
e acabaria por tornar-se
uma das obras maiores da literatura americana.» [Do Prefácio de Nuno Markl]
Sem comentários:
Enviar um comentário