«A reconstituição, feita por um narrador omnisciente, dos sofrimentos
demenciais impostos aos prisioneiros em nome do ideal guerreiro japonês
constituirá o núcleo temático deste romance. Aí convivem a poesia e o horror.
Em torno desse núcelo, a narração expande-se ciclicamente para trás (até à
infância do protagonista numa aldeia remota da Tasmânia do início do século XX)
e para a frente (o pós-guerra, a fama e o proveito em Sydney, enquanto
cirurgião e amante, e a morte do herói renitente aos 77 anos, pois só a morte
permite ler a forma e o sentido de uma vida).
Mas Flanagan não se limita a dar-nos a biografia completa de um filho
do século XX australiano. Conta-nos igualmente “a inutilidade patética e
abjecta de tanto sofrimento de tantos” dos companheiros de Evans no inferno da
Indochina e também, notavelmente, a de alguns dos idealistas carrascos
japoneses (o retrato de um deles não desmerecendo Mishima), o seu ponto de
vista (chamemos-lhe assim) e o selectivo.»
[Mário Santos, Time Out, 3-6-2015]
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