«Dito isto, é necessário deixar claro alguns pressupostos deste
livro. Desde logo, não é um conjunto de reflexões exclusivamente sobre o Eichmann de Arendt, embora
este se possa considerar o seu estímulo inicial; toma como implícito que a
complexidade do livro de Arendt apenas se esclarece por completo desde que
inserido convenientemente no background
da sua filosofia, desenvolvida nalguns textos
fundamentais, a que nos vamos referir sem grandes minúcias técnicas; além
disso, o tema filosófico do mal (assim
como conceitos a ele associados) não pode compreender-se sem o
recurso ao tratamento que dele é feito pelo filósofo que se encontra em
momentos-chave na argumentação de Arendt, ou seja, sem o retorno a textos
essenciais de Kant; por último, o presente livro exprime uma convicção e
contém, mais do que um pressuposto, uma aposta: a singularidade da voz de
Arendt ganha mais nitidez no cruzamento com outras vozes, pelo que convocaremos
alguma da correspondência mantida com autores como Gershom Scholem, Martin
Heidegger, Karl Jaspers ou Joachim Fest.» [Da Nota Introdutória]
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