«Devo dizer-lhe que é
escassa a produção literária sobre a doença vascular cerebral. A razão é
simples: é que ela seca a fonte de onde brota o pensamento ou perturba o rio
por onde ele se escoa, e assim é difícil, se não impossível, explicar aos
outros como se dissolve a memória, se suspende a fala, se embota a
sensibilidade, se contém o gesto. E, muitas vezes, a agressão, como aquela que
o assaltou, deixa cicatriz definitiva, que impede o retorno ao mundo dos
realmente vivos. É por isso que o seu testemunho é singular, como é única a
linguagem que usa para o transmitir. Eu explico-me melhor: o conhecimento
científico das alterações das funções nervosas superiores obtém-se em regra por
interrogatórios exaustivos, secos, monótonos, e recorrendo a testes
padronizados, ou seja, perguntas idiotas cientificamente testadas e
estatisticamente aferidas — dizem os autores.» [Do Prefácio de João Lobo Antunes]
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