Na
sua crónica «Que Coisa São as Nuvens», publicada na Revista, do Expresso, de
20 de Dezembro, José Tolentino Mendonça escreve sobre a obra de Simone Weil, de
que a Relógio D’Água acaba de publicar O Enraizamento.
«E
essa radical individualidade tanto nos incomoda como nos ilumina. Simone Weil
irrompe numa das décadas mais devastadoras do século passado, munida unicamente
da sua inteligência e de uma terrível autenticidade. Escolhera para si duas disposições
de espírito a que procurou ser fiel, com uma ardente, criativa e inabitual
intransigência: primeiro, sentia que devia adequar todos os detalhes da sua
vida à sua forma de pensar, apresentando-se indisponível para fazer cedências
ao pragmatismo ou ao cinismo tidos por inevitáveis; segundo, sabia que o
exercício do seu pensamento (leia-se o exercício de si mesma) a colocava
perante uma representação da verdade, cujas consequências ela queria abraçar
incondicionalmente, hipotecando-lhe tudo. Foi literalmente assim que viveu. E
isso fez dela uma anomalia, uma espécie de blasfémia, um escândalo que a
contemporaneidade não consegue atenuar.»
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