A propósito
do último livro de Ana Teresa Pereira, As Velas da Noite, Isabel Lucas
publica no ípsilon uma entrevista com a autora. Começa por dizer que
«Ana Teresa Pereira podia ser personagem dos seus livros. Com 56 anos publicou
36 livros e mantém-se um enigma. Parte da literatura, do cinema, da pintura
para construir versões de uma mesma realidade. O seu tempo e o seu espaço são
circulares como a ilha onde nasceu e vive. (…)
Este volume As
Velas da Noite, nome retirado ao conto que começa com a ideia de um
realizador a dirigir o olhar de uma actriz e se fixa numa representação de Rebecca,
o livro de Daphne du Maurier adaptado ao cinema por Hitchcock, é exemplar
acerca deste universo esquivo, compulsivo, onde a repetição é trabalhada de
forma a parecer sempre original, mesmo sabendo-se que tudo isso é ilusão. “É um
jogo”, volta a dizer uma personagem, Jenny, a rapariga que é muitas raparigas
nos livros de Clive, o escritor, um jogo de que ela não conhece as regras. Elas
estão com Clive, que lhe tenta explicar porque está obcecado por ela enquanto
personagem e sempre pela mesma história. “É o segredo dos livros de cordel. As
pessoas que lêem não são muito diferentes das crianças. Querem ler a mesma história
uma e outra vez.”
Talvez seja
isso. Mas seria apenas um princípio. Ana Teresa Pereira não fica por primeiras
versões. Lê, reescreve, faz o complexo parecer simples porque essa aparente
simplicidade lhe interessa. Mas há uma nostalgia, uma luz que torna indefiníveis
os traços, como um quadro de Turner, ou como no jardim de Alice, um buraco onde
se entra e de onde não se sai igual.» [Público, ípsilon, 03-10-2014]
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