Para Byung-Chul Han, um dos traços característicos da sociedade ocidental
atual é a agonia de Eros. O eu narcísico tende a fazer dos outros um seu
prolongamento e a esperar que o amor seja, antes de mais, algo de agradável.
As raízes deste fenómeno mergulham na sociedade atual. A conceção
neoliberal de liberdade manifesta-se sob o imperativo de que cada qual deve ser
livre. Mas trata-se de uma liberdade paradoxal, pois é uma espécie de servidão
voluntária em que cada um é o seu próprio empresário e trabalhador em busca de
êxito. Desse modo, o neoliberalismo, com o seu encorajamento dos impulsos
narcísicos do enriquecimento, gera uma sociedade de depressão e de cansaço.
As fronteiras, as diferenças e as distâncias esbateram-se e já não
estimulam a fantasia que engendra o outro, um dos elementos necessários
ao Eros. O capitalismo elimina a alteridade para submeter tudo ao consumo e à
exposição como mercadoria, intensificando o pornográfico. A experiência erótica
tende a desaparecer.
Para Han, a atual crise da arte e da literatura pode atribuir-se em
grande parte a esta diluição do outro. Para o filósofo germano-coreano, só o
amor é capa de infletir a perspetiva do eu, de fazer surgir o mundo do ponto de
vista do outro, da diferença.
Sem comentários:
Enviar um comentário