«A Nave
dos Loucos, exemplo “imperfeito” e exaltante do modernismo na literatura, é
uma “monstruosidade” que retrata um tempo de deformidades morais, cívicas, políticas
e sociais. Os seus intervenientes, aprisionados num navio — o que remete para o
sanatório de A Montanha Mágica, de Thomas Mann, com a mesma atmosfera
claustrofóbica —, são empurrados, num espaço sem referências como é o oceano,
para um final (uma “chegada”) trágico e inexorável. Porter estilhaça
sistematicamente a narrativa e persegue, como uma câmara de filmar
desgovernada, as várias personagens, à medida que revela o que elas fazem, vêem
e pensam. (…) Todo o romance funciona como uma alegoria da perene
vulnerabilidade e da imparável loucura dos seres humanos — não existe uma única
personagem que seja heróica, gloriosa, exemplar — centrada numa altura específica,
a da escalada dos regimes totalitários. A viagem é uma travessia marcada pela
incerteza, mas o que espera os viajantes é a danação e não a salvação.» [Helena
Vasconcelos, Público, ípsilon, 20-6-2014]
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